21 de ago. de 2006

Não há glória em ser diferente.

Não, não é um absurdo.
Ser realmente diferente não confere glória a ninguém.
Digo isso com a convicção de alguém que sequer pode se considerar diferente de qualquer outra pessoa.
Tenho 24 anos, assim como várias outras pessoas.
Sou um menino que gosta de meninos, assim como vários outros meninos.
Trabalho desde cedo, assim como também vários outros.
Sou Cristão, assim como boa parte do globo terrestre.
Tenho asco à política, não gosto de pagode, não sigo tendências, odeio modinhas, não suporto mediocridade e ignorância.

Mas até ai, quantos outros tantos são iguais a mim? Ou melhor, a quantos outros eu me assemelho?

As pessoas cantam um refrão de um comercial de sabonete, tomando para si uma descrição que jamais será válida para elas.
Tentam a todo custo escapar a um modelo de vida que, na verdade, elas buscam incessantemente.

Querem ser Top’s, VIP’s, descoladas, modernas, antenadas, e mais uma porção de adjetivos IN do momento.
Há uma perda cada vez maior de valores. O TER supera o ser.
Pouca importa se você admira música erudita, conhece a história dos partidos políticos, sabe avaliar o cenário econômico e perceber que esse crescimento miraculoso que todos pregam vai levar mais rapidamente o mundo todo a uma estafa, a uma falta irreversível de recursos de maneira geral.
Pouco Importa.

Importa se enquadrar num quadro de sucesso. Haja visto o sem número de fotos postadas diariamente nos fotologs da vida onde a esmagadora maioria das pessoas coloca fotos com poses de si mesmo. Sempre com os as mesmas caras, os mesmos óculos de sol enormes, os mesmos textos de superioridade, os mesmos comentários vazios.Pode parecer auto-estima, auto-suficiência. Mas quem sabe olhar mais detalhadamente percebe uma profunda carência. Um profundo vazio de vida, de objetivo, de sentimento, de conhecimento.

Alguns, muitos, são universitários. Universitários robôs. Entram, ouvem, ouvem, ouvem, lêem, lêem, lêem... Decoram. Vão trabalhar e colocam tudo em prática. Não há questionamento. Não há pensamento. Não há Crescimento.

E se há problemas, a culpa é do Estado.O presidente não presta, o congresso é um antro de ladrões, o governador é um inútil.E o povo? Que povo é esse que se senta à frente da televisão, assiste Jornal Nacional, faz todos os comentários mais vazios e volta sua alienação assistindo a novela que se segue na programação, ao invés de pensar, de sair para conversar, de articular uma passeata, um gesto de cobrança?

Intelectuais? Os de verdade, os bons, são raros, “Afinal, que sociedade precisa ficar sustentando pensadores que jamais colocam a mão na massa?”, pensa a maioria.
Pra que escritores bons? Temos Bruna Surfistinha que vende muito mais.
Pra que compositores bons? Temos Tati quebra barraco, que agrada muito mais.
Pra que filmes nacionais bons? Temos Hollywood ai com seus enlatados milionários.

Eu sei que há iniciativas por ai. Sei que ainda há coisas boas. Mas elas ficam limitadas, ficam travadas, restritas a um clubinho seleto de pessoas que, não raramente, também não querem ser abrir.

Eu vejo os dois lados. Vejo minha família e muitos amigos, humildes, que vivem nessa alienação sem se dar conta, sem ao menos ter direito de escolha, pois não foram ensinados a pensar, somente a obedecer e seguir o que parece certo.

Vejo alguns amigos semi-intelectualizados, incapazes de entender que as pessoas estão ai, precisando da ajuda deles. Preferem ficar bebendo vinho (seco, por que é o melhor), ouvindo bandas não comerciais enquanto criticam o governo, a igreja e todas as outras instituições possíveis.

Não quero entrar aqui nem nas questões de gênero, sexualidade, crenças e tantas outras. Mas é tácita que em cada uma delas há ao menos uma tendência, uma linha guia a ser seguida.

Se todos são iguais, sejam em um extremo ou em outro, qual a glória em ser diferente?
Não há glória.
Se houvesse glória haveria disputa por ela. Haveria disputa por ser realmente diferente. Haveria mais humanidade, menos egoísmo, menos carência, menos preguiça.

A tempo: não me vejo como exceção. Mas eu tento. E você?

4 comentários:

Anônimo disse...

como ja havia dito, gostei muto do texto, bastante forte tbm.
confesso q fiquei meio chocado lendo, pq tive a sensaçao de estar lendo sobre mim msm???

muito bom, pensarei mais sobre isso ;)

10:50 PM
Anônimo disse...

Cara, parabéns!!! Até onde estamos exercitando a nossa individualidade e não apenas agindo como alienados?

2:56 PM
alximist disse...

Ser um estrangeiro neste pais, posso dizer que leer este blog, foi um alivio. Até hoje, não encontrei muitas pessoas capazes de conversar, se trocar ideas interessantes. Inves disso fiquei soprendido com a falta de conhecimento das coisas que pra mim eram basicas. Meu namorado, muitas vezes me pregunta coisas do mundo, e eu não acredito que ele não sabe realmente o que acontece fora do pais. Não sei, talvez eu não encontrei as pessoas para discutir aguma coisa fora de novelas, politicas e consumismo...
Ser diferente, com certeza ajuda para motivar na busca da sua identidade. Eu tambem agradeço muitas vezes esta minha diferencia, por não ser uma pessoa prisoneira das obrigações sociais.

2:02 AM
Anônimo disse...

Beija-Flor, quem é vocêêê?!, fiquei pasmo, sem respirar a leitura do post inteiro, muitas verdades, com certeza os valores que importam hoje são os supérfluos mesmo, ha muita gente alienada aumentando o bojo da massa de manobra do Capitalismo mesmo sem saber, mas que também não se importam quando se percebem robôs, uma vez escutei uma frase e ela ficou: "Conhecimento implica em responsabilidades, as vezes a pessoa prefere não saber", as pessoas tão tão ligadas no seu umbigo que a burrice/alienação passa a ser uma boa saída pra justificar tudo nas suas vidas sem sentido. Encreve mais Beija-Flor que fiquei com vontade de te ler mais. Bjo do Tônio

9:15 AM
 

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